Adeus, meus sonhos, eu pranteio e morro!
Não levo da existência uma saudade!
E tanta vida que meu peito enchia
Morreu na minha triste mocidade!
Misérrimo! Votei meus pobres dias
À sina doida de um amor sem fruto,
E minh'alma na treva agora dorme
Como um olhar que a morte envolve em luto.
Que me resta, meu Deus?
Morra comigo
A estrela de meus cândidos amores,
Já não vejo no meu peito morto
Um punhado sequer de murchas flores! (ALVARÉS DE AZEVEDO)
Vês?! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!
Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.
Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.
Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!
(Augusto dos Anjos)
"
-Mas que pretendes fazer agora?
-Morrer.
-Morrer?Que ideia!Deixa-te disso, Estevão.Não se morre por tão pouco.
-Morre-se. QUem nao padece estas dores não se pode avaliar.O golpe foi profundo, e meu coração é pusilânime, por mais aborrecivél que pareça a ideia da morte, pior, muito pior do que ela, é a de viver. Ah! tu nao sabes o que é isso?
-Sei: Namoro gorado...
-Luís!
-..E se em cada caso de namoro gorado morresse um homem, tinha já diminuido muito o gênero humano, e Malthus perderia o latim. Anda, sobe.
(...)
Sei que tudo deve parecer-te ridículo, disse ele finalmente a Luis Alves.Mas eu creio que era amado e agora nao compreendo. Ou o que eu supunha ser amor, não passava de passatempo ou zombaria...(...)
No dia seguinte, já os acontecimentos pareciam estar envoltos em um manto, o manto do passado.(...)Estevão tinha sua paixão já morta e enterrada."
*Recortes do livro A MÂO E A LUVA DE MACHADO DE ASSIS