terça-feira, 27 de abril de 2010

Adeus, meus sonhos!




Adeus, meus sonhos, eu pranteio e morro!
Não levo da existência uma saudade!
E tanta vida que meu peito enchia
Morreu na minha triste mocidade!
Misérrimo! Votei meus pobres dias
À sina doida de um amor sem fruto,
E minh'alma na treva agora dorme
Como um olhar que a morte envolve em luto.
Que me resta, meu Deus?
Morra comigo
A estrela de meus cândidos amores,
Já não vejo no meu peito morto
Um punhado sequer de murchas flores!



(ALVARÉS DE AZEVEDO)

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Versos Intimos




Vês?! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!


Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.


Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.


Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!

(Augusto dos Anjos)

segunda-feira, 19 de abril de 2010

A MÃO E A LUVA




"
-Mas que pretendes fazer agora?
-Morrer.
-Morrer?Que ideia!Deixa-te disso, Estevão.Não se morre por tão pouco.

-Morre-se. QUem nao padece estas dores não se pode avaliar.O golpe foi profundo, e meu coração é pusilânime, por mais aborrecivél que pareça a ideia da morte, pior, muito pior do que ela, é a de viver. Ah! tu nao sabes o que é isso?

-Sei: Namoro gorado...

-Luís!

-..E se em cada caso de namoro gorado morresse um homem, tinha já diminuido muito o gênero humano, e Malthus perderia o latim. Anda, sobe.

(...)

Sei que tudo deve parecer-te ridículo, disse ele finalmente a Luis Alves.Mas eu creio que era amado e agora nao compreendo. Ou o que eu supunha ser amor, não passava de passatempo ou zombaria...(...)

No dia seguinte, já os acontecimentos pareciam estar envoltos em um manto, o manto do passado.(...)Estevão tinha sua paixão já morta e enterrada."


*Recortes do livro A MÂO E A LUVA DE MACHADO DE ASSIS

segunda-feira, 5 de abril de 2010