quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Contra a Inveja


A minha função espiritual faz de mim uma intermediária entre o humano e o sagrado e para exerce-la da melhor maneira possível tenho como instrumento o Jogo de Búzios. Pessoas de diferentes idades, raças e até mesmo credos, buscam a ajuda desse oráculo. Surpreende-me o fato de que uma grande parte dos que me procuram sente-se vítimas de inveja.
Engraçado é que nunca, nem um só dia sequer, alguém chegou pedindo-me ajuda para se libertar da inveja que sentia dos outros. Será que só existem invejados? Onde estarão os invejosos? E o pior é quando consulto o oráculo e ele me diz que os problemas apresentados não são decorrentes de inveja, a pessoa fica enfurecida.
Percebo logo que existe ali uma profunda insegurança, que gera uma
necessidade de autovalorização. Se isso ocorresse apenas algumas vezes,
menos mal, o problema é que esse comportamento é uma constante. Isso me leva a pensar que cada pessoa precisa olhar dentro de si, tentar perceber
em que grau a inveja existe dentro dela, para assim buscar controlar e
emanar este sentimento, de modo que ela não venha a atuar de maneira
prejudicial ao outro, mas principalmente a si, pois qualquer energia que
emitimos, reflete primeiro em nós mesmos.
Uma fábula sobre a inveja serve para nossa reflexão:
Uma cobra deu para perseguir um vagalume, cuja única atividade era brilhar.
Muito trabalho deu o animalzinho brilhante à insistente cobra, que não desistia de seu intento. Já exausto de tanto fugir e sem possuir mais forças o vagalume parou e disse à cobra:
– Posso fazer três perguntas?
Relutante a cobra respondeu: – Não costumo conversar com quem vou destruir, mas vou abrir um precedente. O vagalume então perguntou:
- Pertenço à sua cadeia alimentar?
- Não, respondeu a cobra.
– Fiz algum mal a você?
- Não, continuou respondendo a cobra
.- Então por que me persegue?- perplexo, perguntou o brilhante inseto.
A cobra respondeu:
– Porque não suporto ver você brilhar, seu brilho me incomoda.
Ingênuas as pessoas que pensam que o brilho do outro tem o poder de ofuscar
o seu. Cada um possui seu brilho próprio, que deve estar de acordo com sua função. Existem até pessoas cujas funções requerem simplicidade, onde o brilho natural só é percebido através do reflexo do olhar do outro.
 (...)


Maria Stella de Azevedo Santos é Iyalorixá do Ilê Axé Opô Afonjá

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