terça-feira, 18 de maio de 2010

Navio Negreiro




IV

Em sonhos dantesco...o
tombadilho
Que das luzernas avermelha o
brilho
Em sangue a se banhar.
TInir de ferros...estalar do açoite...
Legiões de homens negros como
a noite
Horrendos a danças...
Negras mulheres suspendendo
às tetas
Magras crianças, cujas as bocas
pretas
Rega o sangue das mães:
Outras, moças, mais nuas e
espantadas
No turbilhão de espectros
arrastadas,
EM ânsia e magóas vãs!
E ri-se a orquestra, irônica,
estridente...
E da ronda fanstástica a serpende
Faz doudas espirais...
Se o velho arqueja, se no chão
resvala,
Ouvem-se os gritos...o chicote estata.
E voam mais e mais...

Presa nos elos de uma só cadeia,
A multidão faminta cambaleia,
E chora e dança ali!
Um de raiva delira, outro
Enlouquece
Outro, que de martírios embrutece,
Cantando, geme e ri!
No entanto o capitão manda
a manobra.
E após fitando o céu que se
desdobra
Tão puro sobre o mar,
Diz do fumo entre os densos
nevoeiros:
"Vibrai rijo o marinheiros!
Fazei-os dançar!..."

E ri-se a orquestra irônica,
estridente...
E da ronda fantastica a serpente
Faz doudas espirais...
Qual num sonhos dantesco as
sombras voam!
Gristos, ais, maldições, preces
ressoam!
E ri-se Satanás!

(Castro Alves)

Nenhum comentário:

Postar um comentário