segunda-feira, 10 de maio de 2010

O Auto da Barca do Inferno

Ninguém
Que andas tu aí buscando?

Todo o mundo
Mil cousas ando a buscas:
delas não posso achar.
porém ando perfiando,
por quão bom é perfiar.

Ninguém

Como hás nome cavaleiro?

Todo o mundo
Eu hei nome Todo o Mundo,
e meu tempo todo inteiro
sempre é buscar dinheiro
e sempre nisto me fundo.

Ninguém

E eu hei nome Ninguém.
e busco a consciência.

(Belzebu para Dinato)
Está é boa experiência!
Dinato, escreve isto bem.

Dinato

Que escreverei companheiro?

Belbezu

Que ninguém busca consciência,
E Todo o Mundo dinheiro.

(Ninguém para Todo o Mundo)
E agora que buscas lá?

Todo o Mundo
Busco honra muito grande

Ninguém

E eu virtude, que Deus mande
que tope com ela já.

(Belbezu para Dinato)
Outra adição nos acude:
escreve logo aí, a fundo,
que busca honra Todo o Mundo
e Nnguém busca virtude.

Ninguém
Buscas outro mor bem qu'êsse?

Todo o Mundo
Busco mais quem me louvasse
Tudo quanto eu fizesse.

Ninguém
E eu quem me repreendesse
Em cada cousa que errasse.

(Belzebu para Dinato)

Escreve mais

Dinato
Que tens sabido?

Belzebu
Que quer em extremo grado
Todo o Mundo ser louvado,
E Ninguém ser repreendido.

(Gil Vicente)

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