A cigarra, sem pensar
em guardar,
a cantar passou o verão.
Eis que chega o inverno, e então,
sem provisão na despensa,
como saída, ela pensa
em recorrer a uma amiga:
sua vizinha, a formiga,
pedindo a ela, emprestado,
algum grão, qualquer bocado,
até bom tempo voltar.
-"Antes de agosto chegar,
pode estar certa a Senhora:
pago com juros, sem mora."
Obsequiosa, certamente,
a formiga não seria.
- "Que fizeste até outro dia?"
perguntou à imprevidente.
- "Eu cantava, sim, Senhora,
noite e dia sem tristeza."
- " Tu cantavas? Que beleza!
Muito bem: pois dança, agora..."
(Milton Amado e Eugênio Amado)
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