terça-feira, 17 de agosto de 2010

Relatarei sumariamente a doçura da liberdade

Um cão gordo e saciado encontra um logo magro ao extremo: eles se cumprimentam e param:
- Diga-me de onde vem tanta exuberância? Que comida lhe deu esta corpulência? Eu, que sou bem mais corajoso que vocês, morro de fome.
- O mesmo destino lhe espera, se você puder servir o dono de maneira idêntica, responde bondosamente o cão.
- Em quê? Pergunta o outro.
- Vigiar a entrada, proteger a casa contra ladrões, mesmo à noite.
- Estou, seguramente, disposto à isso! Por ora sofro com a neve e a chuva, levo uma vida árdua nas florestas; como me seria mais comôdo viver sob um teto sem fazer nada, alimentar-me e sciar-me de comida!
- Siga-me então.
No caminho, o lobo reparou no pescoço do cão, que a coleira tinha marcado:
- De onde vem isso, meu amigo?
- Não é nada.
- Conte-me, eu lhe peço.
- Acham-me muito fogoso, por isso prende-me durante o dia para que eu repouse qundo está claro e para que eu zele quando chega a noite. No crepúsculo, sou desatado e vou onde quero. Sem que eu tenha que me mexer, trazem-me pão, de sua mesa meu dono me dá ossos e as pessoas da casa atiram-me porções de tudo aquilo que não querem. Assim, sem me cansar, encho o meu estômago.
- E diga-me, se você quiser ir a algum lugar, você pode?
- Não, absolutamente.
- Seja feliz a seu modo, cão, não gostaria de um trono que me tirasse a liberdade.

(Jaime Pinsky)

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